sábado, 29 de abril de 2017
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Da ignorância da Censura ou da genialidade de Raul Seixas: “Das inconveniências de uma mosca”.
Da ignorância da Censura ou da genialidade de Raul
Seixas: “Das inconveniências de uma mosca”.
O baiano Raul Seixas, o
roqueiro brasileiro por excelência, dispara contra a Ditadura com letra ácida,
satírica e incisiva, que soou nonsense, estúpida
e de mau gosto à “inteligência” da Censura.
Os censores Joel Ferraz
e Jacira Françaa, em análise “técnica” e
apurada, liberaram a letra de “A mosca na sopa” com a seguinte
conclusão: “em que pese a estupidez e o mau gosto, somos pela liberação, já que
não atinamos a comprometimento de outros” (Censura, 9 de abril de 1973).
“Eu sou a mosca Que
pousou em sua sopa, Eu sou a mosca Que pintou pra lhe abusar; Eu sou a mosca Que
perturba o seu sono, Eu sou a mosca No seu quarto a zumbizar” (Raul Seixas,
1973). Em poucas palavras, a Mosca de Raul Seixas identifica-se para a Censura
e manda o seu recado, que passa despercebido, à Ditadura: “E não adianta Vir me dedetizar Pois
nem o DDT Pode assim me exterminar Porque você mata uma E vem outra em meu
lugar. (Raul Seixas 1973).
A Censura não entendeu
que a metáfora foi genialmente utilizada pelo poeta irreverente do rock brasileiro
ao representar a resistência à Ditadura através de uma mosca “incoveniente” e
que manda um recado desaforado ao dizer que não adiantaria nem mesmo o
extermínio com DDT. O DDT é o primeiro pesticida moderno, largamente usado
durante e após a Segunda Guerra Mundial para o combate aos mosquitos vetores da
malária e do tifo e neste caso da letra de Raul Seixas o DDT representa os
órgão de Inteligencia e Repressão da Ditadira, o DOI-CODI, DOPS, etc.
A letra d”A mosca na
sopa” de Raul Seixas foi analisada pelo DCDP – Divisão de Censura de Diversões
Públicas, órgão responsável por inibir as produções culturais que contrariavam
as doutrinas militares. Toda produção cultural deveria ser submetida à censura
para análise e parecer liberando ou não. No caso da Mosca de Raul Seixas foi
liberada por não ter sido compreendida pelos sensores a mensagem subjacente na
letra, sendo esta tratada como “inexistente”, quando na verdade veiculava em
sua linguagem “simples” um recado direto aos repressores.
Alem de Raul Seixas, artistas
como Gilberto Gil, Chico Buarque e tantos outros, para driblar a censura,
utilizaram de estratégias semelhantes para expressar de modo sutil toda a
insatisfação de sua época. Estratégias linguísticas eram utilizadas para
driblar a censura, mas a mensagem não passava despercebida pelo público. A
Censura vetava também as letras que eram consideradas por eles atentado ao
pudor, aos bons costumes e até mesmo se a linguagem apresentasse variação fora
da norma padrão.
Por causa dessas
restrições impostas pela censura os artistas brasileiros fizeram dos anos da
Ditadura o período mais criativo da arte brasileira, diferente da época atual de
“liberdade” de criação em que vivemos.
Por Inamar Coelho,
13/04/2017
segunda-feira, 3 de abril de 2017
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