segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Duas palavrinhas sobre a liberação das armas de fogo no Brasil.



Duas palavrinhas sobre a liberação das armas de fogo no Brasil.

Temos altos níveis de violência, dizem os noticiários nos últimos anos.
Antes a violência existia até em índices mais alarmantes, só não sabíamos por falta do acesso à informação.
Há menos de 15 anos quando acontecia um crime no interior raramente era divulgado nos grandes centros, hoje tudo que acontece em todos os lugares está na rede social, dando a impressão de que a violência aumentou e em tempo real.
A mídia televisiva explora a violência no país com sensacionalismo pois é algo que dá audiência, como o sexo e a pornografia. Repito, o que aumentou foi o acesso à informação, do sensacionalismo, e a redução do conhecimento, por isso mesmo.
Lembro-me que antes do estatuto do desarmamento muita gente tinha arma em casa e portava a mesma nas ruas para intimidar os mais humildes.
Arma de fogo sempre foi um artigo caro, então aquele que queria portar arma de fogo comprava quase sempre por vias ilegais.
Na minha juventude presenciei casos de violência com arma de fogo que marcaram a minha compreensão sobre tal coisa: para mim arma só pode estar nas mãos da polícia ou dos bandidos, ou seja, cidadão comum não porta arma. Presenciei um tiroteio entre vizinhos em 1986 do qual uma bala perdida feriu superficialmente a barriga de um garoto da vizinhança. Aquela bala poderia ter sido em mim; pouco tempo depois um adolescente da minha rua, para imitar o pai que sempre portava arma, construiu um revolver artesanal e ao dispará-lo para testar, a pólvora explodiu no seu rosto e por pouco não o matou; em 1990 presenciei um tiro à queima roupa em um rapaz que estava embriagado causando tumulto num bar perto da minha casa; também em 1990 presenciei um homem batendo na esposa com a arma na mão e ela por medo de ser alvejada permanecia imóvel enquanto ele a esmurrava na cabeça; nessa mesma época, uma moça da minha rua foi alvejada por uma bala disparada em uma festa, atingindo-a no pescoço e que não a matou por milagre.
Fui testemunha do perigo que é portar uma arma, por ver tornar violentas as pessoas de bem.  Outro dia no noticiário vimos estarrecidos que uma criança levou pra escola o revolver do pai, militar, e disparou contra os colegas que lhe incomodavam na escola.
Enfim...
O Estatuto do desarmamento veio para conter essa violência gratuita exercida pelos cidadãos de bem e agora pessoas sem a mínima responsabilidade querem revogá-lo. Hoje, portar arma de fogo é crime e isso reduziu bastante a violência nas ruas. Revogá-lo não para conter a violência, essa é uma a grande inversão da realidade e do propósito, mas para atender aos anseios do mercado de armas que vê no brasil um mercado promissor. Derrubar o estatuto do desarmamento e permitir que portar armas não seja crime, inversamente, elevará a violência aos níveis mais altos possíveis; causará transtornos para o trabalho da polícia; alimentará o mercado clandestino de armas; transformará nossa gente de bem, de paz e ordeira em pessoas violentas e irresponsáveis; tornarão vulneráveis as crianças, jovens e adolescentes que poderão ter acesso à elas facilmente e em casa.
Não podemos permitir que ideias retrógradas tomem conta da nossa gente e transformem nosso país em um lugar mais violento do que já é. Precisamos é de educação, saúde e justiça social, pois isso traz civilidade. Arma de fogo só favorece a violência gratuita.

Inamar Coelho