sábado, 30 de novembro de 2019
sábado, 24 de agosto de 2019
A vida arde
A vida arde.
O
velho índio
que
esperava o céu descer
...que
seus olhos e veias
adubassem
a floresta
quando
não pudesse mais ver Guaraci...
no
“Dia do fogo”
a
floresta arde e ele tem que fugir...
sem
Peabiru...
na devastação...
Na
retina a fumaça
o
inferno dos homens
que
consome a floresta
os
espíritos das fontes...
...nos
espelhos d’agua
...Iara
arde
Na
desolação
os
bichos fogem
sufocam...
muitos
morrem
...aos
montes
agoniza
toda a criação
a
vida arde
Yamandu
acode
como
pode
Jaci
chora na escuridão...
A
morte rodopia insana
ao
comando das bestas-feras
para
destruir o santuário da vida...
futuro
é incerto
na
queimada tirana
o
dragão da ignorância
cospefogomatavida
...as
bestas ao seu controle
alimentam
o espírito do deserto
...a
vida arde
na
sanha genocida
triste
sina...
o
velho índio não é Irãmaîé
pra
sobreviver
para
poder contar
A
mata arde, a esperança arde, o velho arde...
“...era
uma vez uma floresta na linha do Equador”
no frenesi da ganância covarde, a terra arde
e do sangue do velho
e do sangue do velho
nascerá uma flor...
Inamar
Coelho (agosto de 2019, quando o brasil resolveu deixar a floresta queimar)
Notas:
Guaraci: Quaraci, Coaraci ou Coraci (do tupi kûarasy, "sol") na mitologia tupi-guarani é a representação do Sol;
Peabiru: Caminho do Peabiru (na língua Tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes da invasão do continente pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente;
Iara: Sereia do folclore brasileiro, a mãe d'água;
Yamandu: Deus criador na mitologia tupy-guarany, entidade mitológica sem forma material.
Jaci: Deusa da lua criada por Tupã para ser a rainha da noite;
Irãmaîé: Personagem da mitologia tupy-guarany. Teria sido o único ser humano sobrevivente de um grande incêndio que teria dado origem ao mundo. Dele, seriam descendentes todos os seres humanos da época anterior ao dilúvio.
domingo, 7 de julho de 2019
Ignorância é a tônica!
Se o olhar descrito pelo genial Adoniran Barbosa matava mais que bala de "revorve", a ignorância dos censores indubitavelmente foi mais letal à produção cultural dos tempos sombrios da ditadura. "Tiro ao alvaro" de 1960 foi vetada numa compilação de Adoniran Barbosa em 1973, quando o mesmo, por bloqueio intelectual causado pela censura, resolveu republicar velhas canções em seu disco daquele ano. O "crivo especializado" dos censores vetaram a letra por aquela reproduzir a forma de falar do povo da periferia de São Paulo, baseando-se apenas no preconceito linguístico travestido em questão de "gosto". Típico de regimes totalitários e da tirania do poder absoluto, "se eu não conheço ou não entendo, eu não concordo, então eu proíbo". E assim foi: os censores desconhecendo a poesia nas palavras simples utilizadas para falar de uma situação lúdica do flerte amoroso, inocente, censurou o "Tiro ao Álvaro" talvez pelos furos na "tauba" utilizada para metaforizar o coração apaixonado. Os estudos da linguística apontam para esse problema recorrente e a escola muito tem se esforçado para erradicar tais noções equivocadas que tratam como "erro" as variantes da língua, mais especificamente os falares das classes de menor prestígio social. Geralmente o preconceito em relação às variantes da língua é pautado no padrão linguístico utilizado pela elite intelectual e econômica e pelos seus reprodutores conforme a ideologia vigente. Fiquei imaginando uma adaptação para esse trecho da música do Adoniran em 2019, da "tauba de tiro ao alvaro" para "o carro do Everaldo", aquele alvejado por 80 tiros no Rio de janeiro, em 7 de abril de 2019, quando o mesmo viajava com a a família para um chá de bebê:
De tanto levar
Flexada do seu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê
"O carro do Everaldo!"
não tem mais onde furar
Não tem mais...
As referências às "bala de carabina", "bala de revorve" e "atropelamento de artomove" seriam mantidas como estão, já que a tendência à liberação de armas e o afrouxamento da legislação de trânsito estão em voga, como se Adoniran previsse na sua canção profética. Hoje, seria censurada, não por uma censura oficial, mas por parte da população que embarcou nessa de reprimir tudo que pode indicar uma recusa à ideologia que chegou novamente ao poder. E assim vemos crescer o preconceito, a intolerância, a homofobia, a misoginia, e outras fobias em relação à diversidade, à cultura e à arte que não seja conservadora. Abramos os olhos nestes tempos turbulentos.
terça-feira, 14 de maio de 2019
Brasil estrambótico
Brasil
estrambótico
O
país transportado pro passado
Para
o tempo da chamada escuridão
Com
ministros inimigos da razão
Por
alguém quixotesco governado
Empenhado
em projeto malfadado
De
cortar recurso da educação
Provocando
a revolta da nação
Pois
o povo já não tá alienado
Previdência
em reforma imoral
Com
o país governado por twitter
O
desmando já passando do limite
E
a esquerda elogiando general
O
eleitor que votou tá arrependido
Apostou
no retrocesso do Brasil
Quando
trocam um bom livro por fuzil
É que se nota: todo avanço foi perdido.
Ramani, 15 de maio de 2019
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