A vida arde.
O
velho índio
que
esperava o céu descer
...que
seus olhos e veias
adubassem
a floresta
quando
não pudesse mais ver Guaraci...
no
“Dia do fogo”
a
floresta arde e ele tem que fugir...
sem
Peabiru...
na devastação...
Na
retina a fumaça
o
inferno dos homens
que
consome a floresta
os
espíritos das fontes...
...nos
espelhos d’agua
...Iara
arde
Na
desolação
os
bichos fogem
sufocam...
muitos
morrem
...aos
montes
agoniza
toda a criação
a
vida arde
Yamandu
acode
como
pode
Jaci
chora na escuridão...
A
morte rodopia insana
ao
comando das bestas-feras
para
destruir o santuário da vida...
futuro
é incerto
na
queimada tirana
o
dragão da ignorância
cospefogomatavida
...as
bestas ao seu controle
alimentam
o espírito do deserto
...a
vida arde
na
sanha genocida
triste
sina...
o
velho índio não é Irãmaîé
pra
sobreviver
para
poder contar
A
mata arde, a esperança arde, o velho arde...
“...era
uma vez uma floresta na linha do Equador”
no frenesi da ganância covarde, a terra arde
e do sangue do velho
e do sangue do velho
nascerá uma flor...
Inamar
Coelho (agosto de 2019, quando o brasil resolveu deixar a floresta queimar)
Notas:
Guaraci: Quaraci, Coaraci ou Coraci (do tupi kûarasy, "sol") na mitologia tupi-guarani é a representação do Sol;
Peabiru: Caminho do Peabiru (na língua Tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes da invasão do continente pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente;
Iara: Sereia do folclore brasileiro, a mãe d'água;
Yamandu: Deus criador na mitologia tupy-guarany, entidade mitológica sem forma material.
Jaci: Deusa da lua criada por Tupã para ser a rainha da noite;
Irãmaîé: Personagem da mitologia tupy-guarany. Teria sido o único ser humano sobrevivente de um grande incêndio que teria dado origem ao mundo. Dele, seriam descendentes todos os seres humanos da época anterior ao dilúvio.