Duas palavrinhas sobre a liberação
das armas de fogo no Brasil.
Temos altos níveis de violência,
dizem os noticiários nos últimos anos.
Antes a violência existia até em índices
mais alarmantes, só não sabíamos por falta do acesso à informação.
Há menos de 15 anos quando
acontecia um crime no interior raramente era divulgado nos grandes centros,
hoje tudo que acontece em todos os lugares está na rede social, dando a
impressão de que a violência aumentou e em tempo real.
A mídia televisiva explora a
violência no país com sensacionalismo pois é algo que dá audiência, como o sexo
e a pornografia. Repito, o que aumentou foi o acesso à informação, do sensacionalismo,
e a redução do conhecimento, por isso mesmo.
Lembro-me que antes do estatuto
do desarmamento muita gente tinha arma em casa e portava a mesma nas ruas para
intimidar os mais humildes.
Arma de fogo sempre foi um artigo
caro, então aquele que queria portar arma de fogo comprava quase sempre por
vias ilegais.
Na minha juventude presenciei
casos de violência com arma de fogo que marcaram a minha compreensão sobre tal
coisa: para mim arma só pode estar nas mãos da polícia ou dos bandidos, ou seja,
cidadão comum não porta arma. Presenciei um tiroteio entre vizinhos em 1986 do
qual uma bala perdida feriu superficialmente a barriga de um garoto da vizinhança.
Aquela bala poderia ter sido em mim; pouco tempo depois um adolescente da minha
rua, para imitar o pai que sempre portava arma, construiu um revolver artesanal
e ao dispará-lo para testar, a pólvora explodiu no seu rosto e por pouco não o
matou; em 1990 presenciei um tiro à queima roupa em um rapaz que estava embriagado
causando tumulto num bar perto da minha casa; também em 1990 presenciei um
homem batendo na esposa com a arma na mão e ela por medo de ser alvejada
permanecia imóvel enquanto ele a esmurrava na cabeça; nessa mesma época, uma
moça da minha rua foi alvejada por uma bala disparada em uma festa, atingindo-a
no pescoço e que não a matou por milagre.
Fui testemunha do perigo que é
portar uma arma, por ver tornar violentas as pessoas de bem. Outro dia no noticiário vimos estarrecidos que
uma criança levou pra escola o revolver do pai, militar, e disparou contra os
colegas que lhe incomodavam na escola.
Enfim...
O Estatuto do desarmamento veio
para conter essa violência gratuita exercida pelos cidadãos de bem e agora
pessoas sem a mínima responsabilidade querem revogá-lo. Hoje, portar arma de
fogo é crime e isso reduziu bastante a violência nas ruas. Revogá-lo não para
conter a violência, essa é uma a grande inversão da realidade e do propósito, mas
para atender aos anseios do mercado de armas que vê no brasil um mercado
promissor. Derrubar o estatuto do desarmamento e permitir que portar armas não
seja crime, inversamente, elevará a violência aos níveis mais altos possíveis;
causará transtornos para o trabalho da polícia; alimentará o mercado
clandestino de armas; transformará nossa gente de bem, de paz e ordeira em
pessoas violentas e irresponsáveis; tornarão vulneráveis as crianças, jovens e
adolescentes que poderão ter acesso à elas facilmente e em casa.
Não podemos permitir que ideias
retrógradas tomem conta da nossa gente e transformem nosso país em um lugar
mais violento do que já é. Precisamos é de educação, saúde e justiça social, pois isso traz civilidade. Arma de fogo só favorece a violência gratuita.
Inamar Coelho