quarta-feira, 17 de março de 2021

Horário de visitas

  Horário de visitas

Encontram-se no hospital, no horário de visitas, dona Justiça com as trigêmeas, idosas, Política de direita, Política de esquerda e Política de centro. Visitam a jovem Democracia que está no leito de hospital com a saúde debilitada. Em um canto afastado estavam o Sr. Negacionismo e a velha Ignorância próximos da cama com a Dona Morte. Naquele clima pesado, para descontrair, a Política de centro pergunta à Justiça como ela havia chegado até ali sozinha. A Justiça rindo marota destacou que não era cega, apenas usava a venda para fazer um papel, atriz que era. A irmã Política de direita riu discretamente e com um aceno de cabeça mostrou que entendia o recado. Tentando manter a conversa, a Política de direita pergunta sobre a balança desequibrada e a espada com dois fios. A Justiça, entendendo o jogo das irmãs Políticas, pensou em dizer que a balança servia para pesar o poder do lado que melhor pagasse e a espada para cortar dos dois lados conforme a conveniência, mas só esboçou um sorriso amarelo, lembrando a Ética que esperava lá fora. A Política de esquerda nem teve tempo de perguntar alguma coisa, quando a conversa mudou o foco, ao entrar no quarto, de supetão, a Verdade, que cumprimentou a Justiça sem muito entusiasmo. A irmã Política de esquerda não perdeu tempo e a inclui no papo: dirige-se à Verdade perguntando sobre seu vestido tão longo, e se não era mais conveniente estar nua já que no recinto estavam a Justiça, a Morte e elas mesmas, as trigêmeas Políticas. A Morte vendo a Verdade enrubescer aproximou-se, calada, das irmãs Políticas, apontando para o relógio que pendia da parede, que contava as horas, impassível. Em seguida apontou para o canto abaixo onde estava sua foice amolada, perto da cabeceira da Democracia. Naquele instante  fez-se um silêncio sepulcral e no quarto ouvia-se apenas a respiração fraca da moribunda.  

I.C. 17/03/2021

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